Quem sou eu para ousar revolver,
Com o dedo da minha crítica ferina,
A merda estrutural da sociedade?
Quem sou eu para crucificar o corrupto,
Se meu ato maior de cidadania se restringe
Ao voto dominical a cada dois anos?
Quem sou eu para apontar a má conduta do próximo,
Quando a trêmula velhinha padece ao meu lado,
Em pé, e não cedo meu assento,
Confortavelmente aquecido pelas nádegas?
Quem sou eu para delatar vilezas,
Quando sei que o vizinho bêbado bate nos filhos e na mulher
E não ergo um dedo para impedi-lo?
Quem sou eu para denunciar a avareza
Se forro os intestinos no banquete
E nego a migalha ao irmão andarilho?
Quem sou eu para atacar a violência,
Se, quando insultado, não cedo a outra face,
E, com ódio, revido brutalmente?
Eu sou o silêncio que agrava o Mal.
E, se me propusessem, dizer em poucas palavras
O desgosto que me causa minha humanidade,
De pronto, respondo:
Impossível, não cabe nos olhos!
A soberania do Verbo
Não busque nos meus versos a virtude e o sublime Não busque nos meus versos qualquer coisa de passional ou tipicamente humana Nos fragmentos da minha alma só cabe o que é explosivo Eu canto os excessos do homem contemporâneo
segunda-feira, 6 de junho de 2011
terça-feira, 10 de maio de 2011
A Gênese da Besta
Ah, se o espermatozóide soubesse...
Se pudesse prever!
Que ao fecundar o Óvulo
Na ânsia reprodutiva,
Do breve Flash orgástico
Brotaria tal besta
Estúpida e contemplativa
Que é o Homem Banal.
Ah, se ele soubesse...
Voltaria correndo pra dentro do Pênis,
Com o semblante abatido,
Porque a viagem foi longa,
Mas aliviado, pois despido de Remorso.
Ah, se a Vagina soubesse
Do atentado que o Homem Banal é ao Bom Senso,
Arreganharia os dentes
E, num único golpe incisivo,
Castraria o membro flácido de carne
E o cuspiria fora,
Como quem escarra muco azedo,
Daqueles que ardem a garganta.
Mas o Homem Banal age por impulso,
E a Mulher não tem escolha
Senão a de o acolher, resignada.
Então a Gênese da Besta é inevitável:
Gera a Besta que
Gera a Besta que
Gera a Besta que
Gera a Besta
E não tenho nada a declarar quanto a isso.
Se pudesse prever!
Que ao fecundar o Óvulo
Na ânsia reprodutiva,
Do breve Flash orgástico
Brotaria tal besta
Estúpida e contemplativa
Que é o Homem Banal.
Ah, se ele soubesse...
Voltaria correndo pra dentro do Pênis,
Com o semblante abatido,
Porque a viagem foi longa,
Mas aliviado, pois despido de Remorso.
Ah, se a Vagina soubesse
Do atentado que o Homem Banal é ao Bom Senso,
Arreganharia os dentes
E, num único golpe incisivo,
Castraria o membro flácido de carne
E o cuspiria fora,
Como quem escarra muco azedo,
Daqueles que ardem a garganta.
Mas o Homem Banal age por impulso,
E a Mulher não tem escolha
Senão a de o acolher, resignada.
Então a Gênese da Besta é inevitável:
Gera a Besta que
Gera a Besta que
Gera a Besta que
Gera a Besta
E não tenho nada a declarar quanto a isso.
sexta-feira, 29 de abril de 2011
O novo Bezerro de Ouro
Ergueu-se um novo Bezerro de Ouro: A moda.
Medusa da Inveja, de olhar fatal,
Que se banha no vômito das bulímicas
E se alimenta de gordura lipoaspirada.
Procissões anoréxicas, no Altar das passarelas,
Louvam o Deus Espelho, que rapta, estupra e devora a Autoestima,
No eterno espelhar-se no espelho do outro.
O sol da Beleza está na fronteira
Entre o mar de Silicone e o céu de Botox,
Na capa majestosa da revista
E nos olhos cegos dos rejeitados
Que o olharam demais,
sem nunca poder tocá-lo.
Medusa da Inveja, de olhar fatal,
Que se banha no vômito das bulímicas
E se alimenta de gordura lipoaspirada.
Procissões anoréxicas, no Altar das passarelas,
Louvam o Deus Espelho, que rapta, estupra e devora a Autoestima,
No eterno espelhar-se no espelho do outro.
O sol da Beleza está na fronteira
Entre o mar de Silicone e o céu de Botox,
Na capa majestosa da revista
E nos olhos cegos dos rejeitados
Que o olharam demais,
sem nunca poder tocá-lo.
sexta-feira, 15 de abril de 2011
Todo mundo viu
Todo mundo viu aquele homem pular da ponte
E beijar o concreto cinza do cotidiano
E esparramar o vazio colossal do peito
No profundo abismo da própria alma
Todo mundo viu um corpo e um RG se apagando
E este espetáculo mágico de vida
Trouxe à superfície de suas consciências
A idéia pouco conveniente da própria morte
E a única conduta constatada
Foi o desaceleramento gradual dos carros na avenida
E o enxame inerte de sonolentos curiosos
Todo mundo viu aquela mulher ser violada
E suportar as investidas venéreas
No colo macio de seu útero.
Irreversível.
Todo mundo viu o indivíduo vestir a máscara da insanidade
Caminhar armado pelo corredor da escola
E da nuvem negra de sua intenção
Chover sangue inocente nas lousas do abecedário
Todo mundo viu aquele político gordo
Que forra as cuecas com o alimento do povo
Enfiar o membro esponjoso na Constituição
E esbanjar extravagâncias em solo caribenho
Todo mundo viu aquela criança comum
Trepada na teta gorda da mãe
Sugando o leite quente da civilização
Aprendendo o alfabeto, aprendendo a contar
E as regras imprescindíveis das boas maneiras
E a consumir, e a trapacear
E a observar o mundo sucumbindo em chamas
Calado em frente à televisão
Caro leitor,
Não é preciso um ensaio sobre a cegueira
Para saber que esses cegos podem ver
Todo mundo viu, mas quem viu desviou o olhar
E por que viu tudo e nunca fez nada
Merece a herança caótica da Humanidade
E beijar o concreto cinza do cotidiano
E esparramar o vazio colossal do peito
No profundo abismo da própria alma
Todo mundo viu um corpo e um RG se apagando
E este espetáculo mágico de vida
Trouxe à superfície de suas consciências
A idéia pouco conveniente da própria morte
E a única conduta constatada
Foi o desaceleramento gradual dos carros na avenida
E o enxame inerte de sonolentos curiosos
Todo mundo viu aquela mulher ser violada
E suportar as investidas venéreas
No colo macio de seu útero.
Irreversível.
Todo mundo viu o indivíduo vestir a máscara da insanidade
Caminhar armado pelo corredor da escola
E da nuvem negra de sua intenção
Chover sangue inocente nas lousas do abecedário
Todo mundo viu aquele político gordo
Que forra as cuecas com o alimento do povo
Enfiar o membro esponjoso na Constituição
E esbanjar extravagâncias em solo caribenho
Todo mundo viu aquela criança comum
Trepada na teta gorda da mãe
Sugando o leite quente da civilização
Aprendendo o alfabeto, aprendendo a contar
E as regras imprescindíveis das boas maneiras
E a consumir, e a trapacear
E a observar o mundo sucumbindo em chamas
Calado em frente à televisão
Caro leitor,
Não é preciso um ensaio sobre a cegueira
Para saber que esses cegos podem ver
Todo mundo viu, mas quem viu desviou o olhar
E por que viu tudo e nunca fez nada
Merece a herança caótica da Humanidade
terça-feira, 12 de abril de 2011
O Homem Moderno
O Homem moderno está sem chão
O gênio romântico diluiu-se em promessas iluministas
Cujas proezas inférteis e positivistas
Plantaram o grande cogumelo em Nagasaki
Houve um tempo em que existiu o Homem Moderno
Talhado no leite da teta magra do exemplo
Zelado pelo anjo sanguinário do imperialismo
Banido do paraíso pelo sabre da razão
Onde dormitas, Homem Moderno?
No berço moribundo dos olhos do leitor?
Nos miolos implodidos nas paredes de escritórios psiquiátricos?
No ventre inchado das crianças africanas, esse pequeno paraíso cristão dos vermes?
Nas vias respiratórias obstruídas por moedas tísicas de ouro?
No corpo esparramado do operário caído do andaime
Ou no bocejo indiferente do colega que o assistiu cair?
Eu assassino o Homem Moderno
Esmigalhando suas vértebras com a corrente do meu Verbo
Expondo as vísceras medíocres da sua conduta infame
No mercado público onde o artista de rua esmola sorrisos e atenção
E trago uma vã, quase estúpida esperança
De que uma futura geração de espíritos lúcidos
Leia meus Versos com asco e repulsa
Não pela maneira malévola com a qual os registro
Mas pela denúncia explícita que faço do Homem Moderno
O gênio romântico diluiu-se em promessas iluministas
Cujas proezas inférteis e positivistas
Plantaram o grande cogumelo em Nagasaki
Houve um tempo em que existiu o Homem Moderno
Talhado no leite da teta magra do exemplo
Zelado pelo anjo sanguinário do imperialismo
Banido do paraíso pelo sabre da razão
Onde dormitas, Homem Moderno?
No berço moribundo dos olhos do leitor?
Nos miolos implodidos nas paredes de escritórios psiquiátricos?
No ventre inchado das crianças africanas, esse pequeno paraíso cristão dos vermes?
Nas vias respiratórias obstruídas por moedas tísicas de ouro?
No corpo esparramado do operário caído do andaime
Ou no bocejo indiferente do colega que o assistiu cair?
Eu assassino o Homem Moderno
Esmigalhando suas vértebras com a corrente do meu Verbo
Expondo as vísceras medíocres da sua conduta infame
No mercado público onde o artista de rua esmola sorrisos e atenção
E trago uma vã, quase estúpida esperança
De que uma futura geração de espíritos lúcidos
Leia meus Versos com asco e repulsa
Não pela maneira malévola com a qual os registro
Mas pela denúncia explícita que faço do Homem Moderno
segunda-feira, 11 de abril de 2011
A heteronímina dos excessos
Eu não tenho musa
Ou visões transcedentais
Pro inferno com a inspiração
A dádiva das belas-artes
E a iluminação criativa
A terra daqui é seca
A Semente não há de brotar
Pro inferno com a inspiração
Aqui ela é forjada nas catacumbas!
O ferro quente se retorce
Incandesce na vermelhidão do metal
E dali nascem meus versos,
Os quais não ouso chamar Poesia
Eu sou Cândido Carneiro
Nasci da química de acordes dissonantes
Renasço a cada instante
Da química triunfal de acordes sincopados
Sou Cândido Carneiro e não tenho sombra
Em fevereiro de 2007, me assassinou um feixe de luz
Não busque nos meus versos a virtude e o sublime
Não busque nos meus versos qualquer coisa de passional
ou tipicamente humana
Nos fragmentos da minha alma só cabe o que é explosivo
Eu canto os excessos do homem contemporâneo
O pai que abusou da própria filha
Os corpos sem alma
O pus que jorra do pênis infecto
A Peste e injustiças sociais
O estupro, o incesto e o assassinato da figura paterna.
As tragédias naturais, o Holocausto e as bombas nucleares
Toda e qualquer tendência destrutiva
Toda e qualquer mente perturbada
Escrevo para os maníacos e psicóticos
Sou Cândido Carneiro e não tenho duplo
Vim assistir à queda dos homens
Na primeira fila do espetáculo
Ou visões transcedentais
Pro inferno com a inspiração
A dádiva das belas-artes
E a iluminação criativa
A terra daqui é seca
A Semente não há de brotar
Pro inferno com a inspiração
Aqui ela é forjada nas catacumbas!
O ferro quente se retorce
Incandesce na vermelhidão do metal
E dali nascem meus versos,
Os quais não ouso chamar Poesia
Eu sou Cândido Carneiro
Nasci da química de acordes dissonantes
Renasço a cada instante
Da química triunfal de acordes sincopados
Sou Cândido Carneiro e não tenho sombra
Em fevereiro de 2007, me assassinou um feixe de luz
Não busque nos meus versos a virtude e o sublime
Não busque nos meus versos qualquer coisa de passional
ou tipicamente humana
Nos fragmentos da minha alma só cabe o que é explosivo
Eu canto os excessos do homem contemporâneo
O pai que abusou da própria filha
Os corpos sem alma
O pus que jorra do pênis infecto
A Peste e injustiças sociais
O estupro, o incesto e o assassinato da figura paterna.
As tragédias naturais, o Holocausto e as bombas nucleares
Toda e qualquer tendência destrutiva
Toda e qualquer mente perturbada
Escrevo para os maníacos e psicóticos
Sou Cândido Carneiro e não tenho duplo
Vim assistir à queda dos homens
Na primeira fila do espetáculo
A soberania do Verbo
Como o câncer na carne tenra e esgotada
Meu Verbo brota no seio da Língua,
Tornando-se vida esponjosa e latejante
Pulsando como uma entidade nova e arbitrária
Vida à parte do Reino Soberano da Gramática!
Submerge o Verbo de um pântano de insulto
E como tornado leva tudo
As estruturas e as instituições
Erguidas pelo suor do Homem Menor
Alto, leitor, a língua palpita no peito
Enquato o coração pulsa entre os dentes
Incêndio no château submisso da lógica
Contudo tu podes tocar-me sem medo
Beijar-me nas mãos os farelos da lepra
Cândido Carneiro
Meu Verbo brota no seio da Língua,
Tornando-se vida esponjosa e latejante
Pulsando como uma entidade nova e arbitrária
Vida à parte do Reino Soberano da Gramática!
Submerge o Verbo de um pântano de insulto
E como tornado leva tudo
As estruturas e as instituições
Erguidas pelo suor do Homem Menor
Alto, leitor, a língua palpita no peito
Enquato o coração pulsa entre os dentes
Incêndio no château submisso da lógica
Contudo tu podes tocar-me sem medo
Beijar-me nas mãos os farelos da lepra
Cândido Carneiro
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